Pormenores dos meus Natais!
Rodriguinhos do Rodrigo, 10.12.21
Nos meus Natais de quando era pequenito (não que tenha crescido muito) os meus pais sempre me habituaram a pinheiros de grande porte, a escolha foram sempre os naturais e sempre os "pinheiros bravos", aqueles de agulhas grandes que picam e quem sabe do que falo sabe também da ginástica que era colocar uma bola que seja naqueles pinheiros, tinha que se juntar várias agulhas e mesmo assim esperar que a humidade e a resina não fizesse escorregar o pendurico pinheiro abaixo.
A partir dos meus 14 anos fui incumbido da missão de ser eu a decorar a árvore - sorte de filho único. Mas desejava sempre um daqueles pinheiros mais mansos e esteticamente mais uniformes, e um Natal decidi comprar um desses e ver a reacção cá em casa. A minha mãe uma saudosista até ao sangue, gostou muito do efeito mas lá suspirou pelos bravios das agulhas, o meu pai apenas disse - lembra-te que o Nosso (Português) Pinheiro é o Bravo,
A lição já tinha sido aprendida durante anos e anos, e as outras espécies também nascem cá e como da parte dele não senti travão assim foram os pinheiros a partir desse natal, sempre mansos, sempre formosos e fáceis de penduricar até ao último Natal do meu Pai, em 2013 o ano do último pinheiro natural a entrar cá em casa. Há memórias que não convém tentar repetir-se, porque jamais serão sentidas da mesma maneira, e para mim ficará para sempre as memórias de alguns pinheiros, como um que o meu pai decorou fora de casa e ainda não havia as séries kilométricas de hoje e decidiu ele fazer uma mega iluminação para o pinheiro, com lâmpadas de cores, e aquilo parecia um arraial de S. João... sem falar nas agulhas que ficavam perto das lâmpadas e que com o calor (quais leds??!!) iam mirrando e encarquilhando :D :D ainda hoje me rio! E quando muito antes das luzes dos chineses que piscavam e davam música se punham 3 séries de luzes coloridas para dar "aquele efeito maravilhoso de uma série apagar e outra acender!!! Quem não experimentou isso não sabe o que é emoção ao olhar para um pinheirinho de Natal!!! E ainda houve o ano que a minha mãe quis retomar o lugar de decoradora oficial e quando cheguei a casa desmontei tudo que ela fez, e de spray em punho pintei de cores "normais" aqueles sinos fluorescentes e tudo que fosse azul e roxo e sei lá mais que cores aquilo tinha, quem me conhece sabe que para mim Natal é verde vermelho e dourado e pára por aí, neve nem vê-la, desde criança que achava que meter neve nas coisas era puro engano, uma mentira pior que a do Pai Natal, porque neve no Porto em Dezembro em 40 anos nunca a vi- mas admito que quanto aos penduricos da minha mãe que eu desvirtuei com spray hoje seriam artigos vintage e davam uns tostões! Outro memorável foi o Pinheiro do primeiro natal da minha primeira filha, que tinha 5 metros ( pais de primeira viagem sabem bem como se vive o 1º Natal do primeiro filho, mesmo que tenha 3 meses como a minha tinha, e certamente só se inetressava se tinha a barriguinha cheia e o rabinho enxuto!) e o tamanho record da árvore fez-me repensar no tamanho das bolinhas que tínhamos e fez-me investir à séria naquelas bolas que só se viam nas decorações dos shoppings, e para colocar a estrela no topo milagrosamente saí ileso de uma queda do escadote que escorregou em slow motion por uma chaminé de cobre!
Agora tenho essa abençoada invenção que é a árvore "artificial" que com os arames nos ramos faz milagres para quem quer dar largas à imaginação. São 26 anos a fazer árvores e garanto, nunca fiz uma igual, nem me peçam para fazer, e quando ao rever as fotos do Natais passados ouço - "ai a desse ano é que estava bonita" acerca-se de mim um espírito de auto-competição, mas sou incapaz de ir na mesma direcção de outros anos, aliás, no dia 7 de Janeiro de cada ano a árvore deixa de ter a magia de rivalizar com as antecessoras e passa a viver na memória daquele Natal, na magia daquele ano, porque confesso, quando acabo de fazer uma árvore já estou a imaginar a do ano que vem, isto é real, preocupante, mas real !!!!
Sou uma pessoa de Natal, acho que nunca me vou ouvir dizer que - o natal é só para as crianças, porque os meus pais semearam em mim o Natal, o verdadeiro, o da FAMÍLIA, a nossa a de casa. Ainda não havia redes sociais e eu já engenhava as árvores não para as fotos mas para os meus pais, para a nossa Noite de Natal a 3, mais tarde a 4 e chegámos a ser 7 com os meus 3 filhotes que julgam viver numa aldeia de Natal nestas alturas. A minha filha mais velha chegou a pensar até aos 7 anos que o pai era o PAI NATAL do Mundo inteiro!!! Mas estava enganada, o verdadeiro Pai Natal era o meu Pai, o avô!
E tudo isto porque hoje a olhar para a minha árvore, bem lá para dentro senti algo que pensei que nunca mais ia sentir, porque me tinha esquecido já de a sentir, algo que me fazia perder horas em criança a olhar para o pinheiro, que é desejar ser tão pequenino para que pudesse andar lá dentro da árvore a maravilhar-me com tudo à volta... foi isso que senti hoje com 40 anos! mais palavras para quê? É NATAL!