Pormenores dos meus Natais!
Rodriguinhos do Rodrigo, 10.12.21
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Rodriguinhos do Rodrigo, 10.12.21
publicado às 01:07
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Rodriguinhos do Rodrigo, 31.08.20
Et voilá...cá chegamos, e agora sim sinto-me capaz de escrever sobre o quão felizes nestas férias...fui e fomos em família ( mãe, pai e 3 filhos de 12/9/6 anos)! As férias em que cada espaço foi visitado de forma única, e acrescento MEMORÁVEL, tal como os tempos que atravessamos!
Antes de mais informo que Férias em Familia é regimento militar, levantar muuuuuito cedinho para os dias renderem por 2 ou 3...e aproveitar tudo ao máximo! Claro que tivemos a nossa semana de praia (a vitamina D para os miúdos não pode faltar, ainda para mais este ano que coitados tiveram tanto tempo confinados!!!) já eu viro marroquino! Mas Férias com o nome FÉRIAS são estas escapadelas que se querem intensas e que chega à noite tudo cansado do corpinho de tanto andar mas com uma energia cerebral renovada de tanto absorver...e como costumo dizer, de olhinhos lavados!
A aventura este ano começou bem no ínicio de Julho, naquela vaga de calor...onde nos refugiamos pela primeira vez na Mata Nacional do Buçaco (ou Bussaco, depende da tabuleta) e que excelente escape! - no meio de tanta copa de árvore rodeados de verde e fresquinho, locais verdadeiramente mágicos e quase sem ninguém...aliás até á hora de almoço vagueamos por lá sózinhos! Sózinhos vai ser uma palavra que serei obrigado a repetir e irão entender bem o porquê!
Depois seguimos para Coimbra, pela 3ª vez na vida dos filhotes, Coimbra (embora agora já achemos que se está a esgotar, é daquelas cidades que apetece sempre voltar, e pergunto-me, sabe-se lá porquê!!!) e desta vez atravessamos o jardim botânico e fomos ao museu do Seminário Maior que desconhecíamos, e que se tranformou numa supresa fantástica e recomendada, onde nas traseiras estavam a montar um daqueles baloiços miradouro "instagramáveis" e que nem nos guias aparecia - toca a sentar e a clicar - e uma vez mais, sózinhos, fomos os únicos a visitar o museu, enquanto percorríamos o jardim botânico vimos no máximo 5 pessoas e seguimos depois para a Baixa. Confesso que a quantidade de lojas fechadas davam um nó na garganta,e a falta de movimento na rua metia uma certa "impressão"...mas eram férias..e aquela calma até que estava a ser benéfica, e o à-vontade e verdadeiro distanciamento estava a ser natural o que nos descansava! Houve um episódio ainda em Coimbra, que já sabemos que vai ficar na memória de todos, entrar num hipermercado com um calor absolutamente abrasador e quando saímos de compras na mão uma tempestade brutal, sim, chuva torrencial com direito a relâmpagos e fortes trovões ( para quem se lembra foi aquele dia de julho que o centro foi inesperadamente surpreendido por uma chuva que começou ao ínicio da noite e durou toda a madrugada!)
No dia seguinte, partimos para a Batalha, e aqui meus caros, além de ser a primeira vez dos filhotes no Mosteiro, para mim foi uma visita que surreal. Fomos os primeirinhos a chegar, e sim, vimos o mosteiro todo sózinhos! - tenho fotos da minha família completamente só a vaguear por todo aquele gótico, mas o que jamais esquecerei tem a ver com o manuelino! - no fim da visita é a vez das capelas imperfeitas, e confesso que foi indiscritível, abrirem-nos a porta por sermos os primeiros, eu entrar e um bando de pombas despertarem e voarem "tecto" acima! acreditem, foi uma imagem única, e que sei que dificilmente se repetirá quando tudo isto voltar ao normal!
Como as crianças pediram e tinham gostado da experiência de visitarem o Mosteiro "à vontade" lá fomos pela enésima vez ao Mosteiro de Alcobaça. Mas com a ideia fixa de que seria só a igreja...não valia a pena visitarmos tudo outra vez. Chegados lá, o fim da missa, era domingo e até alguma gente nos bancos, ficamos ali um pouco, a igreja esvaziou em tempo recorde, e o segurança, chega à nossa beira e pergunta que por ser domingo, portugueses e famílias numerosas não pagavam, se não queriamos visitar... não foi tanto pela borla ( que snob) mas por ter visto que NINGUÉM estava na fila de entrada nem de bilheteira...e qui ça a sorte calhasse outra vez. E assim foi, Mosteiro de Alcobaça visitado só por nós... vingamo-nos e tiramos fotos sem ninguém na cozinha debaixo daquela chaminé imensa... andamos na sala do capítulo e refeitório a nosso bel prazer, e até registei para a posteridade o meu filhote mais pequeno dentro da fonte da cozinha que costuma jorrar água do rio Alcoa, mas que por medidas preventivas do Covid estava tudo seco! Então felizes e contentes rumámos a Leiria, e confesso, perdoem-me os Caliponenses, mas ficamos um pouco desiludidos! -talvez porque o castelo estava mesmo encerrado, porque as pessoas pareciam sizudas, eu sei que cada um de nós tem os seus dias (e as cidades não devem ser diferentes), avancemos porque já deu para perceber que Leiria naquele dia estava em dia NÃO! Seguimos para Fátima, sou católico, cristão e um devoto mariano, mas eu e Fátima há muito que não nos entendemos, mas isso são outras histórias minhas, mas como calhava 12 para 13, e eu imperdoavelmente nunca tinha assitido na vida a um único dia 13 em Fátima, achei interessante levar os meninos a ver uma celebração que se esperava, tal como foi, com muito menos afluência, sem apertos e confusões, mas com muito calor!!! Ainda sobre as celebrações, pela primeira vez na vida recitei o terço na capelinha das aparições, mais um apontamento para mais tarde recordar, eu ali, pequenino a dois passos da imagem de José Ferreira Thedim no ano do seu centenário! ( mas essa experiencia, de tão intensa que foi, fica para outra publicação!)
Também fomos a Barcelos, em dia de feira claro, beber do ínicio do Minho que cá em casa toda a gente gosta, e foi calcorrear a cidade (que é como se conhece verdadeiramente qualquer lugar!) o museu da olaria, foi saber mais e mais do figurado de barcelos, foi a honra de visitar a Júlia Côta, e a surpresa maior destas férias... que revelarei só em privado, um mosteiro perdido naquelas zonas... enorme, com uma recuperação admirável onde nos perdemos toda uma tarde!
Deu-nos então a ideia de completar um quadrado no mapa Porto-Vila Real - Guarda-Aveiro e Porto, e assim foi:
Começamos por Vila Real, pena as igrejas estarem fechadas, e o quanto procurei para trazer uma peça em barro de bisalhães! - mas quanto mais para interior maior é o zelo das pessoas e o medo!!! Descemos para Salzedas e Tarouca, e uma vez mais completamente sós nas visitas guiadas que eram basicamente conversas com a guia, e confesso, havia tristeza pela falta de turismo, mas ao mesmo tempo uma sensação de exclusividade e segurança que nos fazia ver tudo com o nosso ritmo, seguiu-se a Senhora da Lapa, um cantinho completamente cinematográfico, e uma vez mais sózinhos!- nem uma loja de lembranças aberta, só mesmo a da igreja. Almoçamos ali no gigantesco parque de merendas sós... e foi Trancoso e a tão aguardada GUARDA, ver a Sé, daquela dimensão sem uma única pessoa além de nós foi arrepiante...subir ao telhado e sentir-me no topo da catedral da cidade mais alta de Portugal foi único!!! ( já agora , "por fora" é sem dúvida para mim até agora a sé mais bela que vi!) Não se via gente na rua, o centro histórico vazio, lindo, mas vazio, medidas preventivas que há muito no Porto tinham sido relaxadas ( contar pessoas para entrar em centros comerciais por exemplo) e reparámos que quanto mais para o interior maior era o medo das pessoas, menos gente havia na rua e mais estabelecimentos fechados, e os que estavam abertos tinham estampado na cara de quem lá estava a ânsia de vender! Foi agridoce esse sentimento, porque se de uma forma tinhamos a sensação de ter cidade só para nós, por outro sofria-se com a crise de cada um, e fizemos questão de o explicar aos filhos..e fomos curtos e grossos - esta gente come como nós, vive como nós, e estão desesperadas porque têm de continuar mas não há ninguém a comprar!!!
Também realizei um sonho de criança, ir ás terras com o meu Nome - Rodrigo, e lá fomos para Castelo Rodrigo, uma viagem única de grandes planaltos que quase pareciam muralhas de natureza defronte a nós, a vista da vila é magnífica e a própria vila, é uma viagem no tempo... não havia ninguém nas ruas...tipo uma óbidos pequenina e pitoresca só para nós...lá estava o posto de turismo, com uma senhora que foi uma simpatia e nos mostrou a igreja de Rocamador ( nome curioso não?!) não vou esquecer o nome da padroeira de Castelo Rodrigo! Ainda na senda do nome Rodrigo, aventuramo-nos a ir a Ciudad Rodrigo , aqui na nossa vizinha, e foi um encanto mesmo, percebemos porque é das 10 aldeias históricas mais lindas de Espanha, aí já não estávamos sózinhos, havia muitos nuestros hermanos, mas as medidas lá eram bem mais apertadas - máscara obrigatória até dentro das viaturas! - Uma catedral belíssima com um pórtico que ficou na retina!
Seguiu-se Viseu, - mas que cidade bonita nos saiu Viseu, como o turismo fez sobressair o melhor daquela cidade, encantadora, tivemos o privilégio de assistir sózinhos no coro alto da magestosa Sé de Viseu à missa de aniversário da consagração da catedral! O Museu Grão Vasco, e poder admirar aquelas obras todas, que ilustravam os Lusíadas nos livros de portugues por exemplo, sem gente à frente, ter o S. Pedro ( o verdadeiro) de Grão Vasco ali á minha frente na sala sem ninguém, é algo que dificilmente esquecerei!!
E veio a volta ao Minho, que começou despreocupada com a simples curiosidade sobre a capela escondida da basílica dos congregados, e acabamos por andar nas ruas de Braga de lés a lés, entrar nas suas igrejas e monumentos, visitar o santuário da Senhora do Alívio, completamente desconhecido por nós, e uma vez mais Ponte de Lima, o que eu gosto daquela cidadee nunca me enche de fazer uma paragem lá! Fomos apanhar nortada para Caminha, e claro tinhamos de passar na Princesa do Lima, a nossa Viana e as nossas Bolas do Natário!
E foi Galafura e o seu Miradouro de S. Leonardo, o "excesso de natureza" do Torga e para mim até hoje a mais bela paisagem que os meus olhos SENTIRAM!!! E uma voltinha a Amarante, sabe sempre bem lanchar em Amarante, sobre o Tâmega, e também fomos descobrir algumas coisinhas na terra do Avô, como o museu da Broa e a aldeia de Quintadona, uma aldeia de fantasia literalmente, toda em xisto onde exalta um extremo bom gosto na reabilitação arquitectónica nos dias de hoje!
Para o fim, porque ficou-me a mania desde que fiz o Caminho de Santiago que 2, 3 dias por ano no meio da natureza e de aventuras mais ó menos radicais, me carregam energias, e enquanto a manuela não ganha gosto por calhaus, e os pequenos não me acompanham, tenho tido sempre a enorme sorte de arranjar alguém tão "louco" como eu que me acompanha ou que me leva! E este ano, depois do ano sabático passado, o Zé e eu lá fomos, em busca de mais para ver no Gerês ( tivemos sorte de ir para o lado menos movimentado, uma vez que 3/4 de Portugal parecia que estava por lá. E foi Póvoa do Lanhoso, Santuário da Senhora da Abadia - um oásis solitário e carregado de beleza, S. Bento, barragens e barragens, a DURA prova da fenda da calcedónia, demos um pulinho a Lóbios, Pitões das Júnias, como não podia faltar, Montalegre ( ó cidade catita!!), Vilarinho de Negrões ( é mais bonita ao longe, fica a dica!) e finalmente depois de anos a aaperciá-la de cima com a família chegou a hora de atravessar a ponte do Diabo! Oh emoção! e terminar em Viana, no meio do monte de Santa Luzia em busca do mosteiro de S. Francisco lá abandonado, mas que a natureza se encarregou de decorar as ruinas de forma única!!!!
E sempre nos intervalos destas aventuras foi o nosso Porto como sempre, e com tanto para descobrir, as pequenas pela primeira vez subiram à Torre dos Clérigos e não há palavras para descrever o priviligiados que somos em viver numa cidade que ano após ano dá para se perder um dia em encontros novos, novas antigas ruas...e o quanto ainda sabemos que temos para ver!
Não quero nunca deixar de aproveitar as férias desta maneira, sei que alguns podem achar chatas, mas acreditem cada bocadinho de cultura que lhes fica em tempo de lazer, é um investimento maior que as próprias férias!!!!
E estas ficarão certamente na nossa memória, pelo NOSSO PAÍS, pela NOSSA HISTÓRIA, pela NOSSA CULTURA, e ajudando no pouco que pudemos a contribuir para a economia local por onde passámos!! Mas fica e ficará a sensação, e resumo, de que tudo estava ali, como nunca, PARA NÓS!!!
Férias? -Até para o ano! e sem covid, é o que desejamos todos!
publicado às 19:55
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Rodriguinhos do Rodrigo, 20.05.20
De: Rodrigo 2020
Para: Ricardo 1984
Quem te escreve és tu, prestes a fazer 40 anos, sim, quem te escreve és tu, só que hoje és mais velho que os teus Pais!
Com tanta imaginação que tens, e com tantos sonhos e previsões que já fazes venho daqui, deste futuro presente dizer-te em primeiro lugar que serás sempre filho único, sim podes suspirar de alívio!!! Hoje, são muito mais os que te chamam Rodrigo do que Ricardo, vais entender isso quando entrares para a primária!
Quero que saibas que continuarás a festejar os anos na mesma casa em que estás a festejar, mas já não há Restaurante, nem o teu Pai vai estar ao teu lado a abrir o bolo contigo! Dito assim pode assustar-te, mas garanto-te que vais ter a coragem e a atitude que te farão ter orgulho de ti nos piores momentos.
Vais ter a infância mais feliz que podes imaginar, terás o teu pai e a tua mãe sempre contigo, de manhã à noite, e dar-te-ão toda a liberdade, porque sabem quem és! ( tirando a sala que vais incendiar daqui a uns meses, e daqui a 3 anos quando te apanharem no telhado da casa com lençóis numa das tuas cenas dramáticas!!! e ainda um atropelamento mas não te preocupes porque nem internado vais ficar para surpresa até do médico que te atropelou, e até hoje podes suspirar porque que NUNCA ficaste internado!)
Mas hoje, com 40 anos tenho de pedir-te desculpa, mas não vais para Padre nem para Advogado como desejas, vais ser um "burro que não sabe o que quer", vais alimentar preconceito sobre Letras, e quanto a padre vais sentir o peso de filho único e isso falará mais alto!
Desculpa também por a determinada altura da tua juventude, ter metido na cabeça que deveria ser perfeito, porque isso te afastará da verdadeira pessoa que és, vais começar uma odisseia de atitudes influenciadas por ti mesmo, resumindo, vais SER como TU pensas que os que te amam gostariam que fosses… e por mais avisos que esse não é o caminho, tu vais em frente porque pensas que é o único e o correcto! Nem o teu Pai a dizer-te que “ Estás a perder a graça toda” vai despertar-te!! (e esta frase vai ser marcada a ferro na tua memória até ao dia de hoje!)
A Avó Irene ainda está presente e até hoje serás sempre mais filho que neto e por tê-la perto de ti, faz-te sentir o Ricardo que és!
Mas a Avó Maria e o Avô Joaquim não estão cá, mas a avó Maria será sem dúvida até hoje o modelo humano mais inspirador da tua vida, e por isso as tuas filhas serão Marias e o teu filho Joaquim! Serão eles sempre o símbolo de Família para ti, embora depois de morrer o teu Pai, vais entender que tal como o teu pai te dizia tantas vezes, Família SOMOS NÓS cá em casa. É triste mas vais aprender que a família respeita-se, mas não quer dizer que sejam os teus maiores amigos, e muito menos são eles as pessoas que te querem melhor! Mas o teu pai vai dar-te resistência e ensinar-te a estar atento às pessoas com as suas incoerências e sobretudo à força dos laços!
Falando em Família, também vais ter a tua!!! Vais encontrar a Manuela, e vais entender que só ela pode ser tua mulher, e com ela vais casar e ter o casamento que sempre sonhaste, e será ela a Mãe dos teus filhos, e sem dúvida para casar e para ser a Mãe da tua Família só poderá ser ela, acredita em mim! vais ser Pai de 3 filhos que são sem dúvida a tua MAIOR MISSÃO e hoje, vê só, são todos maiores que tu!
Vais ter 2 meninas como tanto gostas, a Margarida - que vai herdou de ti a reflexão e a postura social, a Rosa - o teu lado teatral e a “altura”, e o Joaquim - a doçura e como todos dizem, as feições!
Depois de perderes o teu Pai, vais acordar e perceber muito dos erros que fizeste para contigo, vão fechar-se muitas janelas, mas vai abrir-se um portão quase do tamanho da tua vida! Vais VIVER e ao VIVER vais entender o conteúdo das palavras do teu Pai e vais conhecer-te e passar por um processo (que ainda dura) de te encontrares.
Não quero desvendar-te tudo que se vai passar… nem quero que penses que este tom é de lamento, porque a vida será uma Mãe para ti, tal como a tua, que estará contigo ainda hoje e te tratará como sempre, vibrará com as tuas futilidades, e que com os olhos consegue sempre ser o teu colo! Vais sentir-te sempre muito amado o que fará de ti sempre o mimalho que és!
mas repara:
-Tu é que farás as escolhas, as faltas que fazem parte de ti hoje, és TU que as vais criar, e sempre com o mesmo erro, de não seres fiel a ti mesmo!
-Podes orgulhar-te do teu sentido de justiça, e até da consciência racional com que fizeste tantas opções que te levaram até hoje!
Mas garanto-te que cá dentro não perdeste nem um pedacinho do que és, nada tirou o brilho dos olhos, nem a alegria, nem a curiosidade por tudo, e muito menos a fé tão própria que tens!
És um miúdo de bom coração, do alto dos meus 40 anos posso dizê-lo, e hoje, cada vez interessa menos o que os outros pensam, porque sabes bem que é contigo que viverás até ao fim dos teus dias!
Orgulha-te da pessoa que és, embora algumas vezes sintas que és uma fraude e que não mereces a admiração e amizade daqueles que tanto gostas e pelos quais sentes uma imensa gratidão por existirem e serem tão especiais em tantos momentos da tua vida!
A maior lição que me ensinas é que nada dói mais que desiludir a criança que fomos! Porque fomos somos e seremos o mesmo, sempre …
Que continues a sentir dentro de ti que és imensamente abençoado e verdadeiramente Feliz!
Um Beijo do Rodrigo!
publicado às 16:38
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Rodriguinhos do Rodrigo, 22.04.20
E aqui estou eu em contagem decrescente para os 40!!! Esse MARCO na vida de cada um, esse número redondo que tem muito mais peso que os 30, e nem é bom lembrar que já é o dobro dos 20!!!!
Eu sabia que seriam únicos os 40, e não, não estou a falar de todos quantos estão nessa faixa etária e dizem maravilhas do quanto é bom ser-se "quarentão" , falo do estado de graça que me iria acompanhar todo o ano dos 40... e eis-me em isolamento, há mais de um mês com os filhotes em casa, com a minha mulher a entrar e a sair de isolamento conforme as medidas devido ao trabalho LINDO, mas exposto que tem, a ver o céu mais azul, um silêncio no meio da cidade que já me faz pensar que vou estranhar a barulheira quando começar tudo de novo ( porque nem me digam que não vai, abstenham-se as tóxinas por favor!), os passaros e esta sensação de "siempre en domingo" que confesso não me desagrada de todo.
E penso para mim, Mãe Natureza, Deus, ou seja lá "aquilo" que for, NÃO ERA PRECISO TANTO!!! Eu sabia e sentia que ia ser único, mas também era escusado algo à escala global!!! Eu assim nem consigo fazer aqueles momentos reflectivos de toda uma vida... nem consigo sequer deprimir por causa dos 40, porque é tanto estranho, novo para absorver, tanta memória futura que quero guardar que nem tempo se tem para uns dramas de "meia-idade"! E também os professores não deixariam que tal acontecesse, porque trabalhos é com força, como disse uma amiga minha, vamos sair disto com equivalência ao Ensino Básico e eu acrescento, com o Doutoramento em Secretariado Escolar, porque ter 3 filhos em anos diferentes, e receber emails dos vários professores, e multiplicar isso por disciplinas é DOSE meus amigos! Além de que agora temos que alternar na Tv Memória, e depois a tarde para o estudo e trabalhos e vice versa... e depois ver as datas...cumprir prazos...porque sim, nós pais temos de o fazer... um de 6 e uma de 9 anos devem achar que os abandono a tirar fotos aos trabalhos e a enviar...isto é stress escolar PURO!!!
Mas pronto, pelo menos tenho a certeza que estes 40 serão ÚNICOS ( já devo ter escrito único 10 vezes!).
E eu que iniciei um regime alimentar em janeiro a pensar no aniversário e consequentemente nas fotos das férias 2020... e pergunto PARA QUÊ??
Mas resta-me a esperança de que isto vai passar ( ouvi uns zumbidos de fundo a reclamar: - ai, isto nunca mais vai ser o que era!!! - isto não vai lá assim com duas tretas à normalidade!!! - isto vai ter de ser coordenar horas de ponta!!! - isto das escolas vai durar até 2022!!! confesso que muitas destas vozes são mesmo minhas!!!)
Continuemo-nos a cuidar de nós e TODOS, força a todos que estão a passar momentos difíceis, porque os há, e quem passa por elas sabe bem que não é fácil, e vamos ter confiança, acreditar que SIM, um dia tudo vai voltar como era em 12 de março de 2020!
Só para terminar tenho de escrever Coronavírus vulgo Covid-19 vulgo Conivírus para ficar registado, não vá a memória traír-me num futuro longínquo...
(só uma coisa, conhecem alguém que tenha tido ímpetos de raiva ou qualquer sentimento menos bom enquanto comia as uvas passas à meia noite do dia 1/01/2020??? é que se por acaso conhecem e se recordaram ... bem não digo mais nada!!!!)
publicado às 01:34
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Rodriguinhos do Rodrigo, 19.03.20
Quando somos Pais, mas já não temos o nosso connosco, este dia tem um sabor agridoce, temperado a miminhos e de "hoje é o teu dia Pai", com a sensação de que nos falta alguém, que não vale a pena procurar porque não está cá!
Lembro-me do 1º dia que fui PAI, e não, não me senti pai durante os 9 meses da primeira gestação, esses meses ocupei-os a ser guardião do bem estar da minha mulher, ela não tomava um duche descansada porque eu estava do lado de fora tipo jogador de rugby à espera de para que lado ela poderia escorregar!!!! A preocupação com ela foi muito maior que a preparação para ser Pai, porque da primeira vez que ela sentiu o bébé a mexer na barriga, reparei que o estado de graça é exclusivo das mães, eu não sentia nada!!!!, e pedi-lhe para partilhar comigo todos os momentos, porque só assim conseguiria "viver" todo aquele processo do qual me senti desde cedo marginalizado pela minha condição de homem!!!
Claro que tudo isso se reflectiu no momento que nasceu a nossa Margarida!
Eu a pensar que ia sair uma versão de mim em tamanho bébé, e nasce uma menina que me era completamente estranha!!! Não tenho vergonha de o dizer, foi o que senti, uns olhos negros abertos e arregalados, e eu ali... sem saber o que sentir, não consegui tocar-lhe, apenas senti a maior sensação de responsabilidade do UNIVERSO!!! Isso senti... a responsabilidade de que NADA de mal neste mundo poderia acontecer com aquele ser pequenino!
Horas mais tarde, peguei nela, e olhei-a e pensei para mim, eu sou teu pai, tu és minha filha...mas falta aqui qualquer coisa, vamos ter de tratar disso!
Lembro-me que cheguei a casa e o meu Pai estava radiante, e a primeira pergunta que me fez foi se era a mais bonita do hospital, e eu, cabisbaixo, respondi:
-não sei, não vi as outras, nasceram 7 meninas hoje!
O meu Pai (o melhor psicólogo que conheci), naquele momento compreendeu tudo, e teve comigo uma conversa, daquelas que valem por uma Vida, sobre o amor de um pai, a desvalorizar o facto de a última coisa que me apetecia era abrir champagne e fumar um habano, ou a ausência da minha mulher face ao surgimento da minha primeira filha!
Senti-me compreendido, e senti que apesar de ser pai, ia continuar a precisar muito das palavras dele para tanta aventura que vinha por aí...
E assim foi como ele disse... amanhã será mais que hoje...e quando deres por ela, será maior que tu, o amor que tens por ela!
E Hoje, nos dias estranhos que vivemos e com tudo que se passa, eu já com 3 filhos, teimo em não perder aquela sensação do " nada de mal lhes aconteça", e nos inúmeros momentos de dúvida na conduta de Pai, penso muitas vezes como foi ou seria a atitude do meu!
para quem tem a benção de ter o Pai presente neste dia, o maior conselho que dou é:
Aproveitem a fonte inesgotável de amor, compreensão e razão que é um PAI!
para nunca vos embargar pensamentos como - se eu soubesse o que sei hoje!
Feliz Dia do pai a todos os filhos!
publicado às 15:28
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Rodriguinhos do Rodrigo, 13.03.20
É parvo eu sei, mas tenho de confessar, desde sempre desejei viver uma situação destas de quarentena e ameaça global e invasão de ET's, e catastrofes naturais...essas coisas que só um inconsciente como eu se lembra de desejar viver uma vez na vida!
Não tenho por hábito dizê-lo publicamente, pois sei que se insurgem logo com:
"- sabes lá o que dizes" ou "- tu não és normal" e ainda "-falas porque nunca viveste uma situação dessas!"
Pois não, é verdade, mas que um acontecimento destes fica bem no curriculum de VIDA , ai isso fica!
Os meus filhotes são uns sortudos para já, porque além de verem Portugal Campeão da Europa, e vencermos o Festival da Eurovisão, já vão acrescentar uma Pandemia aos acontecimentos VIVIDOS...
Agora a sério, sátiras á parte:
Sabemos bem como está a evoluir bem perto de nós esta infecção, e é uma questão de tempo ouvir notícias de mais casos, ruptura na saúde, não vale a pena evitar a realidade neste momento.
Em consciência familiar, comunitária e social sejamos cidadãos profiláticos!!!
Respeitemos o outro, e isso passa pela corrida aos supermercados, à desvalorização de regras básicas de prevenção, e por mais que tudo nos pareça um alarmismo desmedido, só porque não nos bateu à porta, há que ter em conta "o outro" que pode vir a tornar-se no "nós próprios"!
Mas não percam o humor, já nos chega não abraçar e não dar beijinhos...
P.S. Haja papel higiénico, porque de páginas amarelas já não reza a história da geração dos meus filhos, e jornais digitais não dão jeito nenhum!
publicado às 14:15
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Rodriguinhos do Rodrigo, 25.02.20
Ó meus amigos, nada melhor que um almoço de Carnaval com bastante fumeiro à mistura e orelheira e focinho de porco e a rainha dos acompanhamentos que foi Batata da Galafura!!! tudo bem regado com um bom Verde, para inspirar!
E é neste espírito de perdição da gula que escrevo, antes que me assole aquela nostalgia misturada com dramatismo e melancolia que o excesso de alcool provoca na derradeira fase da sua absorção!!!!
Sempre gostei do Carnaval, porque sou filho único, fui o boneco experimental carnavalesco dos meus pais durante os primeiros anos, e isso depois reflectiu-se e reflecte-se até aos dias de hoje! Lembro-me de a minha primeira fantasia ser de Chinês, e depois fui um Príncipe, (mas não era daqueles fatos maltrapilhos sintéticos de origem duvidosa....eram fatos à maneira!!!) e depois veio um Diabo, e um Cozinheiro, e um Diplomata que me fez ganhar o 1º prémio na escola, e veio um Dorminhoco também! Hoje com 3 filhotes tento passar para eles essa mesma alegria, embora a minha mulher seja avessa ao espírito... e lá tenho eu de entrar com a teoria de que foi uma daquelas meninas ( todos nós tivemos esses amigos) que não ia fantasiada porque para os pais era um desperdício e tinha de arranjar à força uma desculpa interna que a blindasse de se sentir á margem de todos os colegas que se fantasiavam! E isto mais tarde resulta num verdadeiro trauma, que se manifesta na forma de "Não gostar do Carnaval"!
discordem se quiserem, mas é o que o adamado me está a fazer escrever, e por tal vale o que vale, mas é um pensamento livre que sempre me serviu como desculpa para a maioria das pessoas que não entram no espírito!
Quem me conhece sabe que folia é comigo, e talvez por isso em 2017 fui Rei do Carnaval nas Termas de S. Vicente- O MELHOR DO MUNDO , terra do meu PAI, um sonho que nunca julguei ser real, quando me dispus a "fabricar" um lobo mau que já comeu a avozinha!!!! Sempre fui muito inventivo na maneira de vestir as minhas filhotas para esta época, e faço questão de dar largas à imaginação e sou adepto do "faça você mesmo" e com isso passar-lhes este espírito criativo, de durante 3 dias sermos super heróis ou princesas ou seja lá o que nos apetecer...faz bem fantasiar, iludir, criar...faz bem uma pele sobre a nossa pele de quando em vez...ou revelar a nossa própria pele, who knows?! Aproveitem... não reprimam, não censurem esta tradição pagã!
Um abraço especial a todos os meus companheiros de escola que me marcaram com as suas fatiotas nos anos 80, e que até hoje perduram na minha lembradura... a Liliana com a Bruxa, o Nuno com o Soldadinho de Chumbo, a Irís com a Sereia, o Escocês do Hugo, a cigana da Cátia, o mosqueteiro do Pedro... todos nós nos lembramos daquele colega em determinado ano, que foi o alvo da nossa cobiça carnavalesca!!
E eu que com 7 anos tive a lata ( bullying à parte) com total apoio dos pais de ir de bailarina!!!! - e esta hein?!?
Deixem emergir os egos, os alter-egos, as fantasias de cada um, porque afinal o Carnaval são 3 dias e amanhã já é dia de jejum!!!!
P.S. qualquer erro ou miscelânia indevida de pensamentos deve-se ao vinho meus caros... a culpa é sempre do vinho!
publicado às 14:27
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Rodriguinhos do Rodrigo, 08.02.20
Hoje , como Pai de 3 filhos, e depois de um dia a debater os problemas que enfrentamos no dia-a-dia e quais a experimentais resoluções que vamos adoptando, surgiu-me uma daquelas convicções que são difícieis de segurar e sinto que as tenho de partilhar com o mundo.
Muitas vezes como pais vestimos a moralidade transversal, o modelo vizinho e a máscara da sociedade, só porque é assim, e reforçamos a forma de educar nesses alicerces que não foram contruídos por nós, cuja essência não cheira a nós mesmos!
Pergunto eu, os vossos filhos, que vos conhecem (e acreditem que conhecem, nunca substimem as criaturinhas que mais nos amam e nos seguem os passos mais fieis que a própria sombra!!! ) vão num playback ou karaoke de fundamentalismos e moralismos só porque nós próprios os estamos a cantar? Não!! um cover até pode ser melhor que o original, mas a base tem sempre como génese um outro autor que não nós.
Se nós sentimos as razões dos limites, se sentimos o porquê desta ou daquela regra, ou ordem ou conselho, repito, se o sentimos, é porque nasceu em nós como verdade, e é essa verdade que passa, é esse conjunto de sentimento e verdade que vai ser a ligação com os nossos filhos!
Jamais poderemos dar algo que nunca tivemos, jamais poderemos descrever o sentimento que nunca sentimos, jamais poderemos ser verdade se não formos verdadeiros. E quem mais que eles queremos que nos entenda?
Sejam honestos como pais, verdadeiros nas acções, nas palavras como nas fraquezas e nas falhas!
E é tão difícil ser-se verdadeiro, talvez por isso educar seja a mais exigente missão do ser humano!
Nunca percam a comunicação com os vossos filhos, um dia que a mentira entrar, ambos saberão que ela vai lá estar, e criará mais tarde um silêncio...e outra mentira outo silêncio...nada se cria nem nada se cuida em mentira!
publicado às 21:04
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Rodriguinhos do Rodrigo, 05.02.20
Desde a minha adolescência que sonhava ir a Santiago, mais pela profunda fé católica e pela fama de centro de peregrinação. Os anos passaram...casei, fui pai 3 vezes, um restaurante e o sonho adormeceu. Entretanto no ano do Jublieu da Misericórdia com uma oportunidade surgiu novamente o desejo de “ir a Santiago a pé” ...encontramos muita gente que também quer ir, e que até ficam entusiasmadas, mas quanto mais real se torna a aventura mais distante as vemos a acompanhar-nos e a meter pés ao caminho. Tive a sorte, benção talvez (!?!) De um conhecido ( não o considerava muito próximo nem tão pouco estava a vê-lo a ser a força motivacional que me faria ir a Santiago, mas o que é certo é que bastou essa pessoa dizer uma data concreta que o clique se deu e pensei...é desta mesmo que Vou! Começam os preparativos ( só de mochila e do que levar, porque não fiz qualquer caminhada!!!) de quem nunca tinha sequer acampado na vida, e quem na altura sobrevivia num sedentarismo mórbido que me tinha levado aos 96 kg ( tenho 1,71m). Só pensava nos problemas que poderia ter a nível físico! Será que iria acompanhar a passada do meu companheiro de caminho, que já tinha sido escuteiro e que também tem o hobby de Bombeiro? Bem, estava descansado pelo menos os primeiros socorros estavam assegurados! Será que me vou desiludir ao chegar lá? Será que vou chegar? A Meta era o que me preocupava, e a imagem com que seria brindado na minha chegada! Li muitos blogues antes de ir...com as mil e uma recomendações, e memórias da experiência. E no dia 27 de Julho de 2016 iniciámos a Aventura da minha Vida! O CAMINHO de Santiago é muito mais do que imaginámos, e por mais que eu queira ser fiel às descrições do que vi e vivi, há sempre um embargo que fica cá dentro que não se consegue descrever. Há dor? Há! E o 2º dia é o pior, principalmente quando no 1º dia alguém se arma em super herói e faz 2 etapas no mesmo dia!!! As minhas coxas latejaram e tinham espasmos involuntários, cheguei a fazer de algumas cadeiras de esplanada um andarilho!!! Dormi melhor nos albergues carregados de gente e com lençóis de emergência, do que naqueles que tinham condições fabulosas e lençóis de tecido!!! Muita coisa passou pela minha cabeça, e aos poucos apercebi-me que a reflexão ia resolvendo assuntos...assuntos que levei como verdadeiros calhaus, e outros penedos gigantes...mas que aos poucos se tranformaram em pedras que se desgastavam e viravam poeira...poeira que ficava para trás, no caminho! Foram 8Kg às costas todos os dias, e sinceramente o corpo deve-se ter habituado porque das costas nunca me queixei...ou às tantas as dores espalhadas desviavam a atenção das dos ombros e costas... Vi amanhecer todos os dias, e o vigor que isso nos dá... tomei o melhor pequeno almoço da minha vida numa eira debaixo de uma ramada cheia de peregrinos de todos os países! Mergulhei em Caldas dos Reis num tanque a 40º e acreditem saí de lá revigorado!!! E quanto mais perto estava, mais longe desejava estar...para que aquela sensação que nascia em mim não acabasse! Não me perdi...nem em momento algum houve a sensação disso, portanto sigam as setas amarelas e garanto que chegarão à Praça do Obradoiro! E quando chegamos lá? e quando cheguei lá!! - a sensação é avassaladora - por mais que queira definir num só sentimento é impossível, porque tudo descarrega e volta a carregar nesse momento! Foi a sensação de não me sentir perdido, nem tão pouco longe de casa... sabia de onde vinha e por onde tinha vindo! foi sentir fundo uma tristeza e um medo ...triste por ter acabado o caminho, e medo que as rotinas que havia deixado em casa e na minha vida tomassem conta de mim novamente! Não queria deixar de sentir aquela sensação que eu sabia que não era só fruto do momento...era fruto do Caminho. E eu não queria acabar o Caminho! Reparei que tudo que passei no caminho era mesmo o que tinha de estar reservado para quem nem sequer se tinha preparado minimamente para a maior parábola físca e emocional da minha vida! - que os momentos de riso, ou silêncio eram naturais...que uma fonte de água, quando no cantil já não há nenhuma e debaixo de 38º é o que nos basta para sermos saciados até à alma! E tudo ao som do Grabriel's Oboe (ou na versão mais popularucha Nella Fantasia) do Morricone numa gaita de foles! Entrei na Catedral pela Porta Santa, abracei a imagem do Apóstolo como se fosse o meu próprio Pai, que tinha morrido dois anos antes, e parecia que depois do tanto que andei tinha finalmente chegado a casa, a ele e a mim! Vivi aqueles dois dias em Santiago intensamente, sentia que ali, naquele lugar havia de ficar guardado e a salvo para sempre algo de mim que não queria deixar para trás!
As palavras na missa do peregrino, tocam-nos a essência, lembro-me ainda de uma frase ( que deve ser repetida em todas as celebrações, mas que para mim foi a primeira) que era: - chegou a hora de tudo que viveram neste caminho, levarem para o verdadeiro caminho - as vossas vidas , as vossas casas e as vossas famílias! Depois chegou o momento do Botafumeiro, para quem não sabe, (eu duvido que alguém não saiba) é um turíbulo gigante, que incensa toda a igreja, completando um ângulo de 180º na nave transversal (portanto quem for á missa os melhores sítios para apreciar o movimento do Botafumeiro é nos bancos do transepto e não na nave central, até porque é aí que costumam estar reservados os primeiros bancos para peregrinos devidamente identificados! Acreditem que o vosso estado, como se apresentam diz tudo, a mim por exemplo ninguém perguntou se era peregrino, e fiquei mesmo no banco da frente! - a vieira ao peito e um chapeu “à Santiago” cravejado de pins deve ter-me denunciado! - Lembro-me que fiquei ao lado de peregrinos ingleses, que no momento que entraram os 8 homens que puxam as cordas para dar balanço ao engenho, um deles, o que estava ao meu lado, baixou a cabeça incrédulo e chorou copiosamente, sempre de olhos no chão enquanto nos sobrevoava o abençoado Botafumeiro! Foi mais forte que eu o instinto de abraçá-lo, embora não o conhecesse, porque sei o quão grande aquele momento era, e quão pequeno ele se sentia... éramos diferentes na língua e na história de vida, mas iguais naquele sentimento!
Há um sorriso de cumprimento entre todos que encontramos e reencontramos pelo caminho e em Santiago...é singular esta empatia pura e sã! Depois de sair da catedral, e antes de deixarmos Santiago, há rituais, e como sou faço por cumprir todas as tradições! Saí pela porta que dá para a Praça das Platerías e é nesse portal do lado esquerdo, que se encontra a estátua do Rei David, e como manda a tradição passei a mão nos seus pés, manifestando a vontade de lá regressar ! No mesmo pórtico, olha-se para o centro, e no topo das colunas lá está...o alfa e ómega invertido, que significa, que o Fim é um Início. Sentia-me profundamente ligado àquele sítio, dei voltas e voltas de despedida, para rever este ou aquele canto, esta ou aquela praça. A última imagem que trouxe na memória, por acaso foi de uma imagem na igreja de S. Francisco (que já tinha visitado no dia anterior quando as luzes dos altares estavam desligadas, e essa imagem encontra-se na parte debaixo do altar do Sagrado coração de Jesus, onde encontrámos na maioria das igrejas a imagem de Cristo Morto), e no momento que andava na igreja, deviam ser 15h acenderam as luzes dos altares e lá fiquei eu embevecido com a imagem de um menino Jesus a dormir abraçado a uma cruz! Uma vez mais o princípio e o fim ligados...sem dúvida que um novo caminho estava a nascer! E era o que sentia , que tinha chegado ao fim de algo, mas que o que estava a começar era muito maior, porem ainda não identificava o que era na realidade, porque a realidade estava longe...estava a 237.7 Km de distância, no dia-a-dia que me esperava! E lá fui eu de mochila às costas até à estação de Santiago, num misto de emoções que sinceramente acho que dificilmente irei viver novamente. Era saudades de casa e ao mesmo tempo saudades já de Santiago! E agora? E Depois disto?- Pensava eu... e lá vim, no comboio a escrever e a chorar quase toda a viagem! Chorei muito, porque não queria que aquele sentimento em mim acabasse...eu não sentia que estava a acabar, pensava é que tudo tinha ficado lá...em Santiago! O caminho muda-nos, creiam que nos muda mesmo, mas também acreditem que o Caminho está em nós e é para nós que afinal caminhamos!
Depois de regressarmos de Santiago, os primeiros dias foram estranhos, de uma difícil acomodação! Tudo parece pequeno. Uma vez li que é a mesma sensação de "chegarmos ao nosso guarda-roupa e nenhuma das roupas nos servir ou nos assentar"! E concordo plenamente! Sentimos que estamos maiores que aquilo que nos rodeia...a nossa liberdade ultrapassa os limites do mundo que deixámos para trás quando fomos! Comigo por exemplo foi engraçado porque cada conversa que eu tinha com a minha mulher reparava que ela me abordava com frases em função de uma pessoa que eu conhecia...mas que já não era eu, não eram precisos tantos rodeios para me convencer!!! É estranho explicar, mas acredito que muitos de vós que fizeram o Camiño percebam aquilo que estou a dizer! Eleva-se o lado prático, directo e transparente!
E o medo de que as rotinas me voltarem a contaminar está sempre lá... a cada passo em que se enfrenta o quotidiano que foi e é a minha vida. Mas também há uma honestidade de mim para comigo que nunca tinha tido, uma liberdade interior que nos deixa respirar quem somos. No fim de contas, foi comigo que estive mais tempo durante o Caminho... e esse tempo...o som dos passos no caminho... a envolvência do silêncio da Natureza, fizeram com que eu fosse ao fundo daquilo que sou! Não vou dizer que sou melhor ou pior...que descobri que sou um ser humano excepcional ou um calhorda, sei apenas , mais do que nunca aquilo que sou, e o que posso contar comigo! Afinal sou a pessoa que mais vou ter de aturar a vida toda! Conversei muito comigo, durante as minhas dores nas coxas, e senti muitas vezes o desejo de prolongar o momento de chegada, porque afinal os preparativos é que têm graça...e afinal eu, como tantos outros, tememos a chegada...aquela que significa o fim...e o vazio e incerteza de como será a vida depois!
Algumas vezes nestes anos, surgiram situações que me remeteram a este ou aquele episódio que vivi no caminho! E a força da minha atitude está na verdade com que reajo a eles no dia-a-dia, porque fui EU que a vivi um dia , porque fui EU que a senti em algum passo do Caminho para Santiago!
Nunca mais fui o mesmo tonhó com duvidas de arriscar "viagens", dormir ao relento, sair sem rumo ( nas leituras mais metafóricas possiveis) - Santiago foi e é um marco na minha vida!!
Este ano faz 4 anos e sinto que em nada a rotina me corrompeu, e afinal faz algum sentido a sensação que tive de continuar o caminho. porque sinceramente não vos vai apetecer acabar ali, na Praça do Obradoiro! O Caminho é muito mais que uma peregrinação...há uma descoberta, e uma vivência que só pode ser vivida por quem se quer deixar Viver! Contado acreditem, nada vale perante a Experiência Única que é fazê-lo!!!
Bon Camiño
Ultreia et Suseia
publicado às 11:06
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Rodriguinhos do Rodrigo, 04.02.20
ro·dri·gui·nho
(Rodrigo, antropónimo + -inho)
substantivo masculino
1. [Informal] Objecto de pouco valor.
2.Sentimentalismo barato utilizado como recurso pelo actor para fazer emocionar o público.
3. Tremelique, trejeito, frescura. (Mais usado no plural.)"rodriguinho", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa
A chegar aos 40 ( faltam apenas e só 107 dias) eis-me aqui a escrever num blog que é MEU! Este é meu e todo meu e não o dou nem empresto a ninguém! Custou-me muito andar aqui com os templates e tirar fotos a um dos meus laços de forma a ficar enquadrado no caprichoso campo do cabeçalho!
Sim, para muitos de vós é fácil e tal... É O MEU PRIMEIRO BLOG!!! nunca me havia aventurado por estas coisas, mas cá estou, e o mais importante, é que cá estou antes dos 40!!!
O que eu quero deste blog, sinceramente nem eu sei, só sei que tenho a mania de falar de tudo e de nada, principalmente quando o nada é a opinião mais concreta e concisa do tudo! (o que eu gosto de ser pseudo-filósofo).
Convém apresentar-me, acho eu, sou o Rodrigo (dahhhhh ou duhhhhh) tenho 39 anos, casado e pai de 3 filhos (podia dizer lindos e incríveis, completamente amestrados...mas prefiro ficar-me pela definição de MEUS FILHOS), sou da Mui Nobre, Sempre Leal e Invicta Cidade do Porto, e trabalho em hotelaria!
De alguma forma teria de nascer o primeiro POST, e não me parece que o lixo seja o seu destino daqui a uns tempos!
publicado às 18:55
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